Pular para o conteúdo principal

Intervenção Ambiental na Mineração de Ferro: Etapas para Obter a Autorização Legal - Parte 2

 

As Compensações Ambientais e Lições Aprendidas nos Projetos de Intervenção Ambiental em Brumadinho para a exploração de Minério de Ferro



Após a coleta e análise dos dados, chegou o momento de transformar essas informações em ações concretas. Como o inventário florestal guiou as propostas de compensação ambiental? E quais desafios ainda precisam ser superados? Vamos explorar essas questões e entender o impacto desse estudo na tomada de decisão ambiental? Neste artigo, exploramos essas questões e analisamos o impacto desse estudo na tomada de decisões ambientais.

Compensação de espécies ameaçadas de extinção


No caso das espécies ameaçadas de extinção, foi proposto o enriquecimento de outros fragmentos de vegetação na região, pois as espécies encontradas são de estágios sucessionais mais avançados e, por isso, não se desenvolvem bem em locais abertos. Para isso, abrem-se trilhas com, no máximo, 1 m de largura nos fragmentos de vegetação selecionados, e planta-se as mudas das espécies que serão compensadas com distância de 3 metros entre elas. A próxima trilha é aberta a 5 metros da anterior, repetindo-se o procedimento. Todas as mudas serão georreferenciadas, numeradas e acompanhadas ao longo do período de vigência do PRADA.

Para as espécies protegidas e imunes ao corte: uma outra abordagem


O plantio compensatório de ipê-amarelo será realizado em área aberta e impactada onde o solo possui boa drenagem. Optou-se por uma distância de 3 x 3 m para esse plantio. O ideal é que o plantio não se restringisse apenas a esta espécie ou que o espaçamento entre os indivíduos plantados fosse maior. Entretanto, por questões logísticas, pela restrição da área disponível e para facilitar a implementação do projeto pelo empreendedor, escolheu-se uma área que favorece a recuperação local. 


O local escolhido fica próximo a um fragmento bem conservado de vegetação, que será isolado e empregadas técnicas de nucleação, como o uso de galhadas e poleiros. A proximidade com fragmentos florestais bem conservados, a retirada dos fatores de impacto e o trânsito - além do pouso - de avifauna e quiropterofauna serão essenciais para que a área se recupere através do fluxo de sementes trazidas por esses animais. Os indivíduos plantados também serão georreferenciados e monitorados ao longo do PRADA.


Compensação Referente à Supressão de Mata Atlântica em Estágio Médio e à Compensação Florestal Minerária


Por fim, restaram apenas as duas últimas compensações florestais: a relativa à supressão do bioma Mata Atlântica em estágio médio de regeneração e a Compensação Florestal Minerária.

Compensação do Bioma Mata Atlântica:


Essa compensação foi relativamente simples, pois o imóvel onde o empreendimento pretende obter a AIA é extenso e possui muitas áreas de vegetação nativa em estágios mais avançados de sucessão ecológica. Dentre a vasta gama de áreas disponíveis, optei por selecionar, para a compensação de cada empreendimento, áreas contíguas, situadas em locais com declividades maiores - muito parecido com às dos locais em que se pretendem as supressões - áreas com baixo potencial de utilização econômica na propriedade e, ao mesmo tempo, em estado de conservação melhores que as das ADAs do empreendimento. Essa escolha visa preservar áreas maiores de vegetação e reduzir os efeitos da fragmentação, um dos maiores desafios para a conservação da Mata Atlântica.


Compensação Florestal Minerária:


Para quem não sabe, trata-se da compensação obrigatória aos empreendimentos minerários que suprimem vegetação nativa. Esses empreendimentos são obrigados a realizar a regularização fundiária de terras localizadas no interior de Unidades de Conservação Estaduais, com área equivalente àquela que será suprimida. É importante lembrar que a Unidade de Conservação (UC) precisa estar na mesma bacia hidrográfica que o empreendimento. Para isso, o empreendedor adquire a terra irregular e doa ao Estado. Caso não seja possível encontrar propriedades disponíveis para essa compensação, o empreendimento pode criar uma reserva particular (RPPN), embora essa opção seja mais onerosa e burocrática.


No caso desses dois empreendimentos, ainda não elaboramos a proposta de regularização fundiária, pois as terras costumam ter preços elevados devido à alta demanda. Não faz sentido que o empreendedor assuma um gasto elevado com uma propriedade sem ter a certeza de que seu projeto de intervenção ambiental será aprovado. Por esse motivo, minha equipe e eu elaboramos as propostas após a aprovação da AIA, evitando custos desnecessários para o cliente antecipadamente. Ainda que vários técnicos de órgãos ambientais, vira e mexe, insistem em solicitar que isso já esteja definido durante a análise do processo.

Conclusão e Desafios


Lembro que o inventário florestal e o PIA não são apenas requisitos técnicos, mas ferramentas essenciais para a tomada de decisões ambientais. As propostas de compensação resultantes desses estudos destacam a importância de uma abordagem científica para mitigar impactos e recuperar ecossistemas degradados. Quer saber mais sobre como esses processos podem ser aplicados em outros contextos? Continue acompanhando as novas publicações.


Viu algum erro ou link quebrado? Tem dúvidas sobre projetos ambientais? Vamos trocar uma ideia no Linkedin!


Postagens mais visitadas deste blog

Como a Recuperação de Áreas Mineradas Pode Ser Otimizada: Estudo de Caso e Estratégias de Recuperação em mineração de pilha de estéril.

Como a Recuperação de Áreas Mineradas Pode Ser Otimizada: Estudo de Caso e Estratégias de Recuperação em mineração de pilha de estéril. Imagem mostrando trecho da pilha e limite da mesma. A jornada de manter um blog pessoal e a luta contra as tarefas do dia a dia: Como a Frequência de Postagens Mudou ao Longo do Tempo Tem sido um grande desafio escrever este blog. Quando o iniciei, tive a pretensão de escrever e publicar todos os dias; porém, esse delírio logo passou. Então adotei uma perspectiva mais realista: escreveria e publicaria uma vez por semana. Justo! Uma vez por semana é até tranquilo de escrever. Errei novamente! Com a rotina que tenho, uma vez por semana parece um esforço homérico (ou olímpico, para não deixar de lado o principal evento esportivo no momento) e tem sido cada vez mais difícil cumprir essa meta. Isso é bem frustrante! Tenho escrito sempre tarde da noite, quase que num transe e com pouquíssimo (ou nenhum) tempo para revisar os textos. O resultado disso é que, ...

Autorização para intervenção em espécimes arbóreos para construção civil na região Centro-Sul de Belo Horizonte, MG

Autorização para intervenção em espécimes arbóreos para construção civil na região Centro-Sul de Belo Horizonte, MG Foto do autor, na rua do empreendimento na região Centro-Sul de Belo Horizonte, MG Muitas vezes é necessário o corte de indivíduos arbóreos em áreas urbanas para construção de novos empreendimentos imobiliários. Isso requer a  solicitação do  documento de “ Autorização para Intervenção em Espécimes Arbóreos” , documento necessário para que essas árvores possam ser cortadas ou transplantadas em casos de ampliação de edificações ou novas construções. Um destes empreendimentos imobiliários me procurou para que eu fizesse a identificação e cadastramento arbóreo para solicitação dessa autorização junto a Prefeitura de Belo Horizonte, MG. O objetivo era prosseguir com a demolição dos antigos imóveis existentes no bairro São Pedro (Região Centro-Sul) e construir novos edifícios residenciais. Como em todos os trabalhos que realizo na consultoria ambiental, o primeiro pas...

O Lado B da Consultoria Ambiental: O Que Ninguém Te Conta (Até Acontecer)

Imagem gerada por IA  Ainda me lembro de quando acreditava que trabalhar em consultoria se resumia a ecologia, análises de dados, tomadas de decisões e relatórios. Essa ideia me acompanhou por muito tempo. No entanto, a realidade sempre me surpreende, e no meu trabalho como consultor, não foi diferente. Na minha ingenuidade de anos atrás, eu não imaginava que o trabalho de um consultor ambiental muitas vezes vai muito além das tarefas óbvias, tomando rumos inesperados. Um desses caminhos que me surpreendeu (negativamente!) foi a análise de documentos do empreendimento e do imóvel onde as intervenções ambientais ocorrerão. Sim, é preciso analisar cada documento para garantir que tudo esteja em ordem antes de o projeto começar e, claro, para protocolar no órgão ambiental . Como tudo na vida, algo que parece chato pode ser crucial. E, nesse caso, é muito mais importante do que se possa imaginar! A falta de um documento ou uma análise equivocada pode impedir o empree...