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Ainda me lembro de quando acreditava que trabalhar em consultoria se resumia a ecologia, análises de dados, tomadas de decisões e relatórios. Essa ideia me acompanhou por muito tempo. No entanto, a realidade sempre me surpreende, e no meu trabalho como consultor, não foi diferente.
Na minha ingenuidade de anos atrás, eu não imaginava que o trabalho de um consultor ambiental muitas vezes vai muito além das tarefas óbvias, tomando rumos inesperados. Um desses caminhos que me surpreendeu (negativamente!) foi a análise de documentos do empreendimento e do imóvel onde as intervenções ambientais ocorrerão. Sim, é preciso analisar cada documento para garantir que tudo esteja em ordem antes de o projeto começar e, claro, para protocolar no órgão ambiental.
Como tudo na vida, algo que parece chato pode ser crucial. E, nesse caso, é muito mais importante do que se possa imaginar! A falta de um documento ou uma análise equivocada pode impedir o empreendedor de conseguir a Autorização para Intervenção Ambiental (AIA). “Impedir?”, você pergunta. Sim, impedir.
A análise documental é um ponto crucial e, na minha opinião, deveria ser uma das primeiras etapas do projeto. Somente depois que todos os documentos estiverem em mãos, analisados e adequados, o projeto deveria começar. Infelizmente, nem sempre é o que acontece: a impaciência do empreendedor muitas vezes o leva a apressar as coisas, e o resultado aparece lá na frente.
Isso aconteceu em um dos projetos em que estou trabalhando atualmente. Um cliente de mineração de minério de ferro, que pretende operar em um município do leste mineiro, nos contratou para obter licenças e a Autorização para Intervenção Ambiental (AIA). Desde o início das tratativas, solicitamos os documentos dos imóveis onde ele desejava operar para análise. No entanto, o cliente afirmou que estava providenciando e que deveríamos seguir com os estudos e projetos. Argumentamos que essa etapa era crucial para a correta execução dos trabalhos, mas ele insistiu que não haveria problemas, que tinha conhecimento da área, que os documentos estavam certos e que, se precisasse retificar algo, conhecia pessoas que fariam isso rapidamente.
Bem, para não me estender, vou resumir a história:
Fizemos todos os estudos – que levaram meses – analisamos e elaboramos os projetos. Houve muitas mudanças na ADA devido a erros no CAR (que ele demorou para nos enviar), problemas com Reservas Legais nas APPs (assunto para outro post)… e nada do documento.
O tempo foi passando, o projeto avançando, e o cliente querendo cada vez mais celeridade. Até que, finalmente, ele nos enviou os documentos. E, claro, esperava que "agora que todos os documentos estavam prontos", tudo fosse protocolado o quanto antes. O resto da história, você já pode imaginar, certo?
Ao analisarmos os documentos dos imóveis, encontramos tantas inconsistências que o projeto, que estava em sua fase final, terá que ser todo refeito. Calma, os estudos e o projeto serão aproveitados, mas precisaremos refazer as análises, modificar os projetos, as compensações, as plantas. A ADA, por exemplo, sofreu uma redução significativa na área que o empreendedor mais queria explorar, e por aí vai. Em outras palavras: um projeto em fase final precisou ser adiado por mais alguns meses. Tudo porque o empreendedor, apesar de nossos conselhos, negligenciou essa etapa documental.
Essa história toda serve para reiterar o quão essencial é a análise documental. Ela deve ser realizada no início do processo, pois pode causar grandes transtornos, atrasos e, até mesmo, impedir que seu projeto seja executado conforme o planejado.
Enfim, essa é apenas mais uma das situações frustrantes que enfrentamos no dia a dia para que o trabalho avance. Compartilhei essa experiência com vocês justamente porque acredito que aprender com os erros (os nossos e os alheios!) é fundamental. Fica o alerta: na consultoria, cada detalhe conta. E você, já passou por algo parecido ou tem alguma dica para lidar com esses imprevistos documentais? Compartilhe nos comentários!