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Conquistas da Semana: DAIA em Barão de Cocais e finalização da elaboração de PRAD em Inhaúma, MG

Conquistas da Semana: DAIA em Barão de Cocais e finalização da elaboração de PRAD em Inhaúma, MG

Foto da área do empreendimento mostrando a área da extração de areia.

Essa semana foi de comemoração para a minha equipe! Nós tivemos dois bons resultados: Conseguimos aprovar uma DAIA para a implantação de uma estrada de utilidade pública no município de Barão de Cocais, MG, e formalizamos um PRAD para um empreendimento de extração de areia e argila no Município de Inhaúma, MG (Terra do meu finado Sogro). Ou seja, essa foi uma semana feliz.

Eu não cheguei a participar do projeto da estrada, mas mesmo não atuando neste projeto, sendo ele de responsabilidade da minha Coordenadora Ingrid Sousa, aproveito a oportunidade para parabenizá-la e à toda equipe. É sempre gratificante ver a equipe alcançando bons resultados. Como não participei do projeto, focarei no que eu participei, pois desse tenho mais coisas para contar.


Conclusão da elaboração do PRAD

O PRAD foi para um empreendimento de extração de areia e argila no município de Inhaúma, MG, que fica próximo à Belo Horizonte. O cliente foi autuado e multado recentemente, e o órgão ambiental obrigou que ele recuperasse as áreas que foram degradadas numa antiga área de pastagem com árvores isoladas e um pequeno trecho de APP que foi afetado.

Imagem do Google Earth,2024 mostrando a área do PRAD

Recuperar áreas em que houve algum tipo de mineração costuma ser algo desafiador, pois a camada superficial do solo nesses locais é removida e as áreas não mineradas são muito compactadas por causa do trânsito de veículos. Isso impede que plantas ocupem naturalmente esses locais.

Eu sou um “restaurador” de ambientes por princípio e, sempre que posso, busco esse objetivo em meus projetos de recuperação. Entretanto, restaurar é diferente de recuperar e, em alguns casos, tenho que me contentar com este último. Este trabalho foi um desses casos onde eu tive que optar pela recuperação em vez de restaurar o ambiente que foi degradado. O cliente não mais operará naquela área e, portanto, não teria muito dinheiro para investir na recuperação. Então, ele me solicitou um projeto de recuperação mais “simples” para que ele mesmo o colocasse em prática.

Abrindo um pequeno parêntese neste texto, vou falar um pouco dos custos da recuperação de ambientes naturais. Restaurar ou recuperar áreas degradadas costuma ser muito dispendioso e custoso, tanto do ponto de vista financeiro quanto do ponto de vista de insumos e mão de obra. Grande parte dos empreendedores não costuma levar em conta o custo da recuperação dos danos causados por seus empreendimentos (especialmente em pequenas e médias minerações). Quando chegam ao fim da atividade, esses empreendedores se assustam com os valores de um projeto de recuperação e que, em alguns casos, pode ser mais caro do que o lucro que o empreendimento teve. Isso resulta em abandono das terras ou clientes que chegam até consultores como eu com muito pouco dinheiro para realizar os projetos de recuperação..

Voltando ao empreendimento em questão, a situação era de pouco dinheiro para fazer um projeto de recuperação e o interesse do proprietário do imóvel em transformar parte da área utilizada na dragagem em pastagem. Então, nesse cenário, o objetivo traçado para o projeto foi o de recuperar o solo degradado para futura utilização como pastagem e recomposição da vegetação nos trechos de APP degradados.

Como esses objetivos são distintos, as técnicas propostas também foram diferentes. O primeiro passo é retirar os fatores de degradação que havia na área e, o primeiro passo, foi propor a confecção de uma cerca para impedir a entrada do gado, abundante no imóvel. Foi proposto duas cercas: uma para área da extração de areia e outra para delimitar e proteger as áreas de APP.


Recuperação do Solo: técnicas utilizadas e combate a focos erosivos

Em seguida, é preciso controlar e direcionar o escoamento das águas pluviais para evitar erosões no solo totalmente descoberto. Sem isso, as margens dos lagos artificiais que se formaram por causa da extração da areia e argila, continuariam sofrendo processos erosivos. Então, será feita a devida drenagem na área controlando o fluxo da água no período chuvoso. Além disso, é necessário o rápido recobrimento do solo para permitir a infiltração da água da chuva no solo e evitar o assoreamento e a perda de camadas superficiais do solo.

Para isso, foi proposto a utilização de um mix de sementes composto por crotalárias, feijão-guandu, Girassol, entre outras plantas. Elas compõem uma espécie de tapete verde composto por plantas com baixa exigência nutricional, rápido crescimento e fixação de nitrogênio no solo. Essas plantas farão com que a camada orgânica do solo seja recomposta e permitirá a colonização por outras plantas ao longo do tempo. O que não aconteceria onde o solo foi removido e compactado. Além delas, sugeriu-se o plantio de de algumas árvores nativas da família das Fabaceae fixadoras de nitrogênio. Essas árvores, além de contribuírem com a recomposição do solo, servirão de sombra para o gado e poleiro para aves e morcegos. Estes ajudarão na dispersão de sementes de espécies nativas através de suas fezes.

No fim, a escolha dessas plantas se deu por causa das características da área e do objetivo final do proprietário de transformar o lugar numa pastagem quando o solo estiver recuperado.

Já nas margens dos lagos, serão plantadas o mesmo mix de sementes com os mesmos objetivos: recobrir o solo; evitar erosão e recompor a camada orgânica de solo. Entretanto, nos locais onde há focos erosivos por causa da enxurrada, serão colocadas paliçadas em sequência, como se fossem degraus, e plantadas mudas de árvores da família Fabaceae no entorno do foco erosivo e herbáceas no seu interior. Estas últimas, junto com os degraus, reduzem a velocidade da água, facilitam a infiltração e impedem o aumento da erosão em volta das paliçadas. Como pode ser visto na figura abaixo.


Foco erosivo no local.

Condução da regeneração natural em área de APP

Na área de APP, optou-se pela condução da regeneração natural devido à proximidade de fragmentos vegetacionais e a um menor grau de degradação. Esses fragmentos em volta, são importantes fontes de propágulos e sementes que podem colonizar os locais degradados na vegetação ciliar. Então, a área será isolada e acompanhada por dois anos para avaliação do real potencial que o lugar possui de regeneração e para avaliação da estratégia adotada. Caso esta técnica não se mostre eficiente no período de 2 anos, pode-se optar pelo enriquecimento de espécies no local ou pelo plantio total de mudas de espécies nativas (alternativa mais cara).

O projeto foi finalizado e foi formalizado junto ao órgão ambiental. Após o deferimento deste PRAD, o empreendedor iniciará as atividades conforme o cronograma proposto. O monitoramento do projeto será feito em intervalos regulares para avaliar as medidas implementadas. Conforme as atividades se desenvolverem, farei novos textos para mostrar a vocês como o procedimento está sendo realizado e se serão necessárias novas medidas.

Teve alguma dúvida? Viu algum erro ou link quebrado? Me envie uma mensagem no meu perfil do Linkedin. Sua ajuda é muito bem-vinda!

Referências

POLSTER, David F. Soil bioengineering for slope stabilization and site restoration. Mining and the Environment, v. 3, p. 25-28, 2003.

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